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Mas você só estuda e fica recebendo essa bolsa aí?

  • Foto do escritor: Oliveira
    Oliveira
  • 27 de dez. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 6 de jul. de 2021

Se você faz ou fez graduação, mestrado ou doutorado já deve ter ouvido as famosas frases:

Mas você só estuda?

E aí, vai trabalhar quando?

Vai ficar mamando no governo recebendo bolsa né?


Vamos a ordem dos fatos, em um país em que pouco se valoriza o conhecimento científico e se acredita em quase todo tipo de informação falsa em grupo de whats, é cada vez mais comum que as pessoas vejam o esforço de se adquirir conhecimento como algo quase que pejorativo.



As universidades, diferentemente das escolas técnicas, têm em sua concepção a produção do conhecimento científico. No sentido de que os cursos de graduação possuem como base uma formação com caráter mais científico e por isso demorada. Já os cursos técnicos possuem formação com caráter técnico e pragmático.


Mas afinal de contas, onde queres chegar com essa explicação? Simples, durante a graduação as atividades de Iniciação Científica (IC) são fundamentais para inserção dos acadêmicos no universo científico permitindo que participem diretamente de projetos de pesquisa. Isso em muitos casos só é possível por meio de bolsas de IC que ajudem a manter estes acadêmicos dentro da universidade.


Apesar do termo “bolsa” ser utilizado, essa relação vai muito além. Os bolsistas na graduação cumprem prazos, executam tarefas, participam de reuniões e atividades de pesquisa.

Apesar do termo “bolsa” ser utilizado, essa relação vai muito além. Os bolsistas na graduação cumprem prazos, executam tarefas, participam de reuniões e atividades de pesquisa. Reparou em algo? Sim, o “bolsista” de graduação é parte de um todo. Ele é um funcionário, isso mesmo, um funcionário com diferentes níveis de responsabilidade, os quais iremos aqui dividir em três níveis, apenas para fins didático, e iremos numerar da seguinte forma:

I – Graduação;

II – Mestrado;

III – Doutorado.


No nível de graduação as responsabilidades são menores se comparadas com os outros níveis.

Superada a fase inicial, aquele que optam pela vida acadêmica passa para o nível II, caso consiga entrar nos programas de pós graduação. Isso mesmo, existem seleções e são bastante concorridas em alguns casos. E mesmo assim, a entrada nos programas não é garantia de que o acadêmico terá uma “bolsa”. Olha aí, novamente a palavra “bolsa”, está mamando no Estado.

Então vamos lá, durante o mestrado (II) as responsabilidades ascendem o nível*. Nesse momento,* o acadêmico que antes, no nível I, era parte de uma pesquisa, agora passa a executar um projeto com um nível de complexidade maior, agora ele é o executor e está no caminho para se tornar um mestre.



Ah, mas isso não é trabalho, calma lá. Em muitos casos esses acadêmicos passam horas executando atividades em laboratórios, coletando amostras em campo, realizando leitura de textos científicos (artigos) para conseguir desenvolver sua pesquisa. Vale lembrar que o mesmo é tutelado por um pesquisador com conhecimento na área, seu orientador, assim como na graduação, porém com um nível de dependência menor. O Mestrado, em geral, no Brasil tem duração de dois anos, período que o acadêmico deve cursar disciplinas, coletar amostras, processar dados, realizar experimentos, escrever sua pesquisa, apresentar para um conjunto de professores da área e viver também né, caso sobre um tempo.

Espera aí, se ele realiza isso tudo qual é o horário que ele vai “trabalhar” para se manter? Então, isso é TRABALHO! Calma, então a “bolsa” é para que ele possa se manter? Exatamente!


Espera aí, se ele realiza isso tudo qual é o horário que ele vai “trabalhar” para se manter? Então, isso é TRABALHO! Calma, então a “bolsa” é para que ele possa se manter? Exatamente!

Passado a fase II, vamos ao nível III. Após a conclusão do mestrado o acadêmico deverá novamente participar de um processo seletivo para entrar em um programa de pós-graduação que ofereça doutorado. Superada a seleção o acadêmico irá desenvolver uma pesquisa com duração média de quatro anos. Durante esse período ele terá que realizar todas as atividades que um aluno de mestrado realiza, em geral com um nível de complexidade maior. Ah, vale lembrar que durante esse período a palavra “férias” em geral não faz parte do universo vivido pelos pesquisadores. Sábados, domingos e até mesmo alguns feriados fazem parte da rotina de pesquisa daqueles que optam pela vida acadêmica. Sabe aquele horário de 08:00 as 18:00 e de sábado a domingo? Então, ele não se aplica. A depender do tipo de pesquisa as madrugadas também são utilizadas.

Novamente me pergunto: e qual horário então ele trabalha? Isso é trabalho e por isso ele recebe uma “bolsa” para se manter. Sem férias, sem plano de saúde, sem décimo terceiro... isso mesmo, sem nenhum direito trabalhista.


As “bolsas” não deveriam ser vistas como uma ajuda, mas sim como um pagamento pela mão de obra qualificada e em constante evolução que é utilizada para desenvolver os projetos de pesquisa vigentes no país.

Toda essa contextualização é para exemplificar que para se tornar um pesquisador é necessário muito trabalho e dedicação, porém a sociedade em geral não consegue enxergar a importância dessa atividade, apesar de se beneficiar dos resultados do desenvolvimento científico. As “bolsas” não deveriam ser vistas como uma ajuda, mas sim como um pagamento pela mão de obra qualificada e em constante evolução que é utilizada para desenvolver os projetos de pesquisa vigentes no país. Vale lembrar que os acadêmicos cumprem prazos, devem publicar suas pesquisas e estão sujeitos a devolução dos valores recebidos caso não concluam seus projetos, salvo situações especificas.

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Recomendações científicas:

Uma página no face: Sketching Science

Um anime: Dr. Stone (tem no crunchyroll)


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